terça-feira, 9 de junho de 2009

Desarmando a bomba!

Uma das nossas maiores dificuldades, sem dúvida, é lidar com as críticas que recebemos constantemente. Algumas vezes duras e até impiedosas, as críticas são uma fonte constante de pressão.Nem mesmo a experiência de sucesso é capaz de afastar os críticos, que podem evocar o que se costuma chamar de “fenômeno do impostor” – isto é, mesmo sendo bem-sucedido, o irmão acredita que seu sucesso não é justificável. Seu pensamento é: “Alguém como eu não pode ser bem-sucedido”. Nem é preciso dizer que essa atitude acaba por se tornar uma profecia auto-realizável.
A sensibilidade a críticas
Algumas pessoas são mais sensíveis a críticas do que outras. Basta uma pessoa nos criticar que pensamos que a palavra dela é o veredicto final. Basta a menor falha para que o nosso crítico interno saia proclamando que tudo acabou.Todos nós precisamos desenvolver um mecanismo de filtragem que nos permita ignorar parte das críticas que constantemente recebemos.
Quando não há essa filtragem, a situação pode se agravar pelo que chamo de “fator diapasão”. Quando você está passando por momentos difíceis em casa ou enfrentando dificuldades em alguma área na igreja, qualquer crítica que aparece faz com que o seu diapasão interno comece a vibrar.Se você pegar um diapasão e fazê-lo vibrar, ao aproximá-lo de outro que esteja vibrando na mesma freqüência, elas vibrarão na máxima amplitude. Isso é chamado de ressonância. As críticas normalmente ressoam na freqüência das nossas inseguranças.
Muitos não se sentem completamente seguros da própria capacidade e acalentam dúvidas de que talvez não sejam assim tão competentes e capazes. Assim, eles vivem como se fossem uma farsa que pode ser descoberta a qualquer momento. É fácil entender a sensibilidade de alguém assim às críticas.Nossa história pessoal também explica a sensibilidade a críticas. Quanto mais duras as críticas que você tiver recebido na infância, mas árdua será a tarefa de desenvolver a capacidade de avaliá-las.
Desarmando a bomba das críticas
Todos nós sabemos que nem todas as críticas são sensatas, justas ou corretas, e que, até mesmo os críticos que mais amamos e mais amor sentem por nós, podem errar de vez em quando.Assim, precisamos desenvolver um mecanismo de filtragem que nos livre de vivermos constantemente debaixo de pressão e angústia. Essa filtragem consiste basicamente em aprendermos a questionar as críticas e os críticos.
1. Quem disse?
Essa é a primeira pergunta que devemos fazer. Indagar se seu crítico tem alguma credibilidade é uma atitude que se aplica a todo tipo de situação.Viktor Frankl, médico e psiquiatra austríaco, propôs uma teoria para explicar porque alguns prisioneiros de campos de concentração nazistas conseguiram sobreviver e outros simplesmente desistiram de viver. Ele observou que os que desistiam de viver eram aqueles que aceitavam o modo como os nazistas os viam, enquanto os que sobreviviam se recusavam a sentir-se humilhados, apesar da situação degradante.
Os nazistas os tratavam como lixo, mas em seu íntimo eles se perguntavam: “E porque eu deveria acreditar num bando de porcos como vocês?”. Em outras palavras, eles conseguiram filtrar as críticas simplesmente reconhecendo que os críticos não estavam à altura.
Quando perguntamos “Quem disse?”, o objetivo é tanto excluir os críticos sem credibilidade quanto classificar o nível de conhecimento daqueles que se consideram merecedores de atenção. Além disso, é bom avaliarmos se eles têm algum outro motivo para nos criticar. Será que se beneficiarão de alguma forma ao conseguir fazer com que nos sintamos mal?
2. Quantos disseram?
À pergunta “Quem disse?” devemos acrescentar outra: “Quantos disseram?”.Quem não questiona seus críticos tende a aceitar como definitivo um único comentário negativo. Normalmente essas pessoas estão apenas ressoando alguma dificuldade ou sensibilidade pessoal numa área específica.O maior problema de darmos como definitiva uma crítica é que dificilmente temos como saber se aquela opinião isolada está bem fundamentada, se é correta ou se foi tendenciosa. A melhor maneira de verificar uma opinião é obter diversas outras e compará-las entre si.
3. O fator “todo mundo”
O crítico mais eficaz e que mais afeta a maioria das pessoas é aquele todo-poderoso conhecido como “todo mundo”. É difícil imaginar algo pior que “todo mundo”.Como não aceitar um veredicto emitido por “todo mundo”? Como rejeitar aquilo que “todo mundo” aceita? A verdade, porém, é que “todo mundo” não existe. No entanto, aceitamos a existência desse “todo mundo” e nos submetemos ao seu poder sem questionar.
4. O crítico interior
Nosso crítico interno não só julga corretas todas as supostas críticas externas, ele também acrescenta e inventa mais algumas. É o mais duro dos críticos. Ele consegue ser ainda pior do que “todo mundo”.Engolir sem questionar tudo o que esse crítico interno nos diz é tão equivocado quanto aceitar toda e qualquer crítica externa sem antes conferir se tal opinião foi emitida com conhecimento de causa, se está correta ou se não é tendenciosa.Podemos concluir que não estamos qualificados para fazermos certas críticas a nós mesmos. Normalmente o crítico interno coloca a culpa em “todo mundo”, que já sabemos que não existe.
5. O que essa crítica significa?
O objetivo dessa pergunta é reconhecer uma crítica construtiva. Parece difícil de acreditar, mas existem críticas construtivas. Elas pretendem ser construtivas, mesmo que acabem não sendo. O importante é concentrar-se exatamente no que foi dito, não nas emoções que essas palavras despertam em nós; muito menos na suposta motivação que atribuímos ao crítico. Dessa forma, teremos condições muito melhores de decidir o que responder.
Precisamos nos lembrar dos problemas que podemos ter quando presumimos as “reais” motivações do outro. O irmão vai até o pastor e diz: “Creio que os cultos estão passando muito da hora. Talvez a pregação devesse ser um pouco mais curta. O que o pastor acha?”. Se o pastor presumir a existência de algum significado oculto nessa observação, não haverá limites para a gama de conclusões negativas que ele pode fazer.Se o pastor, porém, parar e avaliar a crítica exclusivamente com base em seu conteúdo, ele terá condições de determinar se ela é construtiva ou não.
Para ser construtiva uma crítica deve ter algum valor. O pastor pode aceitar a sugestão e diminuir a duração do culto só para evitar críticas; ou pode fazer isso porque de fato concluiu que é o melhor a se fazer. Nem sempre é preciso responder imediatamente a uma crítica. Nosso primeiro impulso pode ser de raiva ou de passivida-de. Adiar nossas respostas às críticas internas e externas pode nos ajudar a separar o que é daquilo que não é construtivo.
Não há nada de errado em se escutar críticas. O erro está em acreditar nelas ou rejeitá-las, sem qualquer reflexão, sem ponderar o conhecimento de causa do crítico, sua motivação, o conteúdo e o valor de sua crítica. Não há como evitar a avalanche de críticas que nos cercam, elas certamente virão de todos os lados. Precisamos apenas desenvolver um sistema de triagem para filtrá-las.

Fábio Marques

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